Quando pensamos em futebol e camisetas xadrezes, provavelmente, o primeiro time que vem à mente de todos, claro, é o São José. Brincadeira, a maioria das pessoas pensaria logo na Croácia ou então no Boavista, do Porto. Quem sabe, mais recentemente, na polêmica camiseta xadrez do Barcelona… No caso da Croácia, o xadrez é um símbolo nacional, que faz referência a uma lenda do século X, em que um rei teria derrotado, em partidas de xadrez, um dominador veneziano, ganhando assim a sua liberdade. O xadrez foi parar no brasão do rei, depois no brasão do país e hoje é um símbolo mundialmente reconhecido. Tem algumas outras versões para a história que são bem mais críveis, porém nada curiosas. Já o Boavista passou a usar xadrez no uniforme em 1933, inspirado num clube francês, e, logo depois, alterou o distintivo para incorporar a nova identidade. Deu tão certo que, mais de 80 anos depois, os torcedores do clube atendem pela alcunha de axadrezados.
Croácia e Boavista – dois xadrezes tradicionais
E no Rio Grande do Sul? Desde 2015, o São José tem utilizado camisetas xadrezes. Coincidentemente, nessas últimas cinco temporadas, o clube viveu os melhores anos de sua história. Dados o sucesso recente do clube e a falta de uma identidade prévia forte (exceto a de ser o clube mais simpático da Capital), é possível que o xadrez tenha encontrado um nicho por estas terras. Segundo a Mega Sport, fabricante de material esportivo do Zeca desde 2011, a ideia das camisetas xadrezes partiu da Aspecir, principal patrocinadora do clube.
O primeiro registro de um time gaúcho usando camisetas xadrezes que encontrei até o momento foi do Clube Atlético Guarany, de Espumoso, ainda como amador, entre as décadas de 1950 e 1960. Na mesma época, o Cruzeiro chegou a usar uma camiseta dividida em quatro, mas não chegava a ser um quadriculado de verdade. Sobre essa camiseta do Cruzeiro, ainda não encontrei fotos, apenas relatos.
O alvi-azul de Espumoso usando xadrez em 1961 – pioneiro? (Folha da Tarde Esportiva)
Surpreendente pra mim foi ter encontrado a equipe juvenil do Novo Hamburgo usando xadrez em 1961. Na foto, pode-se perceber que alguns dos atletas não estão usando xadrez, o que me sugere que fosse um modelo já usado a mais tempo e que foi sendo completado com camisetas de outros ternos quando as quadriculadas foram ficando gastas. Teria o profissional do anilado usado xadrez na década de 1950?
O juvenil do Novo Hamburgo usando xadrez em 1961 (Folha da Tarde Esportiva)
Acredito que, entre as décadas de 1960 e 2000, o mais próximo que tivemos de uma camiseta xadrez no futebol gaúcho foi um modelo da Umbro, produzido em Santa Cruz do Sul pela Arcal, para o Internacional, em 1988. A camiseta era feita em fio acrílico e a maneira como o fio era tecido dava um efeito xadrez, de acordo com a incidência da luz, como se fossem dois tons de vermelho. Nas fotos de jogo, porém, dificilmente se percebe esse detalhe. Da mesma forma, em 1990, o Lajeadense usou uma camiseta titular que usava quatro tons de azul dispostos axadrezados.
Mais de uma década depois, a Penalty fabricou uma camiseta alternativa para o Juventude (sem exclusividade, já que outros clubes pelo Brasil utilizaram o mesmo padrão), aí sim com um xadrez de dois tons da mesma cor, no caso, evidentemente, verde. Ainda assim, à distância, pode ser bem difícil de se perceber a diferença entre os dois tons e a camiseta parece ser, simplesmente, verde escura.
Jogadores juventudistas comemoram vitória sobre o Grêmio no Olímpico em 2008 usando a camiseta xadrez (Gazeta Press).
Bem depois, em 2019, a equipe júnior do Brasil de Farroupilha usou o xadrez, tanto no uniforme titular quanto no uniforme reserva. Com isso, contra o São José, foi possível um confronto 100% xadrez, provavelmente, pela primeira vez em campos gaúchos.
Time junior do Brasil, com as camisetas reservas da temporada 2019 (Facebook do Brasil de Farroupilha).
Um raríssimo duelo xadrez acontece no Passo d’Areia, no Estadual Junior de 2019 (Facebook do Brasil de Farroupilha).